Pastoral Vocacional: SIM e NÃO

Reflexões3

A cada passo nos interrogamos sobre o que será o futuro da igreja entre nós quando, ano após ano, o clero se encontra mais envelhecido e sem esperanças de renovação, dado o escasso número de candidatos ao sacerdócio. E nós próprios, se nos encontramos num grupo de amigos e ouvimos soluções de algibeira como a abolição pura e simples do celibato sacerdotal, sabemos que não será essa verdadeiramente a razão pela qual os jovens se não sentem atraídos pelo sacerdócio. Tem de haver outras razões muito mais profundas, das quais não pode andar alheio o espírito materialista do mundo que nos rodeia e o falso sentido de Igreja das nossas comunidades.
As vocações são um dom de Deus à Igreja condicionado pelo nosso esforço de as suscitar, acompanhar e confirmar. Cada cristão é um instrumento pelo qual Deus suscita a vocação a outros. A promoção vocacional joga-se na qualidade da nossa relação humana e espiritual com todos os/as vocacionáveis que contactamos, antes, durante e depois de um processo de discernimento. …
Deixo algumas sugestões para pensarmos, sabendo que muitos “sins” e “nãos” não estão referidos:
SIM a uma Pastoral Vocacional que suscita a descoberta da vontade de Deus na máxima liberdade, que acredita que o casamento pode ser tão santo como a vida religiosa ou o sacerdócio, que propõe tudo sem impingir nada.
NÃO a uma Pastoral Vocacional que não favoreça o confronto de cada vocacionável com a profundidade dos seus desejos mais profundos, que esconda o “preço” de cada escolha cristã, que abuse da generosidade da juventude à busca de sentido.
SIM a uma Pastoral Vocacional que brota da Paixão de Jesus Cristo, que se abre ao mistério de Deus na oração, que não força nem apressa os processos de discernimento…
NÃO a uma Pastoral Vocacional “estratégica” preocupada com preencher vagas…
SIM a uma Pastoral Vocacional que aceita com galhardia os tempos de hoje, que discerne as suas ambiguidades, que valoriza o positivo da cultura actual.
NÃO a uma Pastoral Vocacional que insiste nos modelos e modos de proceder que fizeram sucesso no passado, que cultiva mais a forma que o conteúdo, que se recusa a entender as causas dos nossos dias como o novo papel da mulher, a ecologia, os pobres, a paz…
SIM a uma Pastoral Vocacional onde o sentido da Igreja é mais importante do que a sobrevivência do próprio instituto ou seminário, que favoreça o encontro com Cristo, caminho, verdade e vida
NÃO a uma Pastoral Vocacional de “pesca”, solitária ou meramente grupal, desinserida das necessidades da Igreja Universal…
SIM a uma Pastoral Vocacional que sonha com uma humildade mais completa em que os homens e mulheres espelham juntos o sonho de Deus.
NÃO a uma Pastoral Vocacional discriminatória, sexista, que repete, como um disco riscado, a lista dos pecados e inconsistências dos jovens de hoje.
SIM a uma Pastoral Vocacional entendida como serviço oferecido à juventude na descoberta do seu próprio futuro, que favorece o discernimento e a maturidade humana e espiritual.
NÃO a uma Pastoral Vocacional de “caça”, apoiada na eventual manipulação afectiva da consciência, nas vantagens da salvação.
SIM a uma Pastoral Vocacional que não engana nem esconde nada, que é a imagem do próprio instituto ou diocese na sua fragilidade e na sua grandeza.
NÃO a uma Pastoral Vocacional de fachada, que brilha mas não ilumina, que inquieta mas não responde, que procura jovens sociologicamente “perfeitos(as)” e socialmente imaculados.”
SIM a uma Pastoral Vocacional que una todos numa missão.
NÃO a uma Pastoral Vocacional de emergência, individualista e sem esperança no amanhã que Deus inventará.

  1. Carlos Carneiro, SJ

Dezembro 2002

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